Docente da Universidade do Algarve, Gabriela Borges, apresenta livro nas Jornadas do CIAC
Breve descrição sobre a autora e o que ela diz sobre este este livro:
Entretenimento tem potencial de desenvolvimento de competências mediáticas,
Redes sociais entram na conversa sobre qualidade no audiovisual em novo livro lançado pela professora da ESEC, Gabriela Borges
O que é audiovisual de qualidade é uma pergunta que já se debate há quarenta anos. Se antes se via televisão e se comentava com os amigos na escola ou no trabalho, agora as redes sociais ocupam uma parte desse espaço. O modo de produção atual se inicia nas indústrias, mas culmina no público, que não só participa como recria as histórias.
Segundo Gabriela Borges, professora da ESEC, investigadora integrada do Centro de Investigação em Artes e Comunicação e coordenadora do Observatório da Qualidade no Audiovisual da Universidade do Algarve, a discussão sobre a qualidade de um produto audiovisual estava centrada anteriormente no modo como esta era pensada por seus criadores. Porém, atualmente, “o fluxo, que começa a ser gerado a partir da indústria dos media, permite o engajamento do público de forma direta. Entender como a experiência estética se dá nas redes sociais, como é que esse público interage, comenta e cria conteúdo é o que a investigação procura entender”, afirma.
Esta nova forma de pensar o audiovisual contemporâneo é debatida na obra “A qualidade e a competência midiática na ficção seriada contemporânea no Brasil e em Portugal”, lançada pela coleção “Humanitas” do CIAC e editada pela Grácio Editor que será apresentada nesta sexta-feira, dia 24 de fevereiro, nas XVI Jornadas do CIAC.
A professora Gabriela Borges destaca que, além da criação, a proposta teórico-metodológica desenvolvida no livro procura analisar a circulação - como as empresas distribuem e divulgam o conteúdo por meio das redes sociais - e o consumo – como o público se apropria dessas obras.
A investigadora afirma que o audiovisual de qualidade tem potencial de desenvolvimento de competências importantes relacionadas aos media. “Como os guionistas e os diretores estão trabalhando elementos dessa série, que de certo modo estimulam o público a completar as lacunas narrativas e pensar sobre assuntos que ainda não tinha pensado, ou a produzir conteúdos a partir do que vê na tela como, por exemplo, no caso da criação das fanfics. São perguntas para as quais buscamos respostas com essa nova proposta de análise audiovisual”.
O que é competência mediática?
Nesse novo cenário, em que o público consegue interagir de forma mais direta, compartilhar e criar conteúdos a partir do audiovisual, a educação para os media se tornou ainda mais importante. Este conceito abarca uma série de habilidades que são necessárias para o cidadão contemporâneo poder analisar criticamente os produtos mediáticos e também se expressar de forma crítica e criativa a partir deles.
A investigadora afirma que “É importante entender não apenas a criação dentro da indústria, mas como os conteúdos circulam pelas redes e permitem experiências diferenciadas por parte do público. É uma experiência que não está só relacionada ao visionamento – que era o que se estudava nos estudos televisivos. A produção criativa de conteúdos é o ponto-chave”, diz.
O livro atualiza os estudos sobre a qualidade audiovisual trazendo a perspetiva da competência mediática em relação ao modo como os espectadores consomem os conteúdos digitais. A pesquisadora afirma que “de certo modo, ao desenvolver habilidades relacionadas à competência mediática, uma série ficcional também apresenta características de qualidade que não estão relacionadas apenas à sua criação, mas também ao modo de circulação de conteúdos e ao modo de fruição dessa nova forma de experiência estética”.
Brasil e Portugal
O livro foi desenvolvido pelo grupo de pesquisa Comunicação, Arte e Literacia Mediática integrado no Observatório da Qualidade no Audiovisual. Ao abordar séries ficcionais dos maiores produtores em língua portuguesa, Brasil e Portugal, as análises discutem as produções brasileiras Assédio, da Globoplay, Coisa Mais Linda, da Netflix, e Todxs Nós, da HBO e a portuguesa Casa do Cais, da RTP.
Em comum, as séries debatem temas sociais contemporâneos, incluindo o feminismo, a população LGBTQIA+ e o racismo. Embora a seleção dos temas não tenha sido intencional, o resultado demonstra que essas discussões estão atreladas aos potenciais tanto de qualidade quanto de reflexão e de criação de conteúdos por parte do público.